A entrevista foi realizada por email com a Terapêuta Ocupacional Livia Barboza Machado.
NOME: Lívia Barboza Machado
IDADE: 27 anos
ANO DE FORMATURA: ano do término do curso 2004. formatura foi em fev/2005INSTITUIÇÃO: Universidade Castelo Branco.
PÓS GRADUAÇÃO: Saúde Mental para Teraputas Ocupacionais, pelo instituto Franco Basaglia, contudo não foi possível concluir.
OUTRAS FORMAÇÕES: fiz vários curso em várias áreas, muitos deles em saúde mental e alcool e outras drogas, contudo foram cursos de atualização e não de formação... não sei se vai poder considerar...
LUGARES QUE TRABALHOU: APAE - Japeri, Caps Vila Esperança - Paracambi, Caps ad Renascer - Paracambi, Caps Casa Verde - Mesquita (atualmente), RBC - Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (atualmente)
RECURSOS TERAPÊUTICOS: atualmete trabalho no caps em Mesquita, com pacientes com sofrimento psiquico grave, como esquizofrênicos, psicóticos, entre outros, muitos deles vindos de longa internação. neste trabalho utilizo de atividades em oficina a fim de trabalhar autonomia e independência, tanto quando sua inserção na sociedade e a expressão dos sentimentos, visto seu grande periodo de internação. atuando também na intervenção à crise, etc. No RBC (reabilitação baseada na comunidade) o trabalho é realizado com deficiêntes de todo tipo dentro das comunidades do Rio de Janeiro. o trabalho constitue em realizarmos visitas domiciliares a fim de fazer avaliações, levantar demandas e fazer os devidos encaminhamentos para a rede de assistência
Na ultima aula do semestre foi proposta uma atividade muito interessante chamada de Pintura em movimento. Esta atividade acontece com dois elementos artísticos principais, a pintura e a musica.
A professora dividiu a turma em três grupos, cada grupo com uma folha de papel pardo. Dois a dois as pessoas do grupo iam pintando o painel no ritmo da musica que estava sendo tocada.
Nesse dia, como de costume, cheguei com um brilho a mais nos olhos; talvez por isso esta atividade tenha se tornado tão prazerosa. enquanto meus colegas pintavam fiquei observando seus comportamentos, é interessante como cada um reage à musica de uma forma e a pinta de uma maneira totalmente diferente. Algumas pessoas iam sendo levadas por um único instrumento, outras pelo tempo. No meu caso os elementos musicais se juntam e formam um só sentimento, por isso não senti dificuldades; tudo que vai sendo sentido carrega a mão para que pinte os sentimentos e não os elementos.
O mural foi um trabalho que envolveu uma uma grande parte das atividades das outras aulas. Ele foi feito com a teia de máscaras e exposto no evento do Dia da luta atimanicomial, realizado no C.C.S.
A teia foi colocada com um tecido (TNT) preto de fundo e a frase " o seu olhar melhora o meu" como titulo.
Esse pode não ter sido o trabalho mais prazeroso de se fazer, mais para mim é um dos mais importantes.
Nele estão reunidos todos os bons sentimentos gerados pela turma durante o semestre, nele se faz presente quem somos, como nos vemos e como as pessoas veem agente. A teia de amizade e de sentimentos que a turma construiu. Nele esta contido palavras bonitas , olhos nos olhos, boa musica, boas pessoas entrelaçadas e em forma de uma única obra.
O seu olhar lá fora O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
Nessa aula nós criamos um teia de barbantes da seguinte maneira: cada um com alguns fios nas mãos , andavam pela sala e amarravam seus barbantes com os dos outros colegas falando "o seu olhar melhora o meu", para ele. Essa parte da atividade traz um sentimento muito bom, falar algo tão bonito, com sinceridade e olho no olho, é uma combinação que não poderia dar errado. Ótimos sentimentos foram gerados, isso é sempre bom.
Depois disso pegavam as máscaras, cada um com a sua em mãos, feitas aulas antes. Por fim, uma dinâmica de grupo foi realizada onde um passava-se a linha dentro de sua máscara e a amarrava. Após isso escolhia-se uma pessoa e falava-se o porque o olhar dessa melhorava o seu.
Quanto o tempo o tempo tem? Falar sobre o tempo é algo complexo, traz e leva as coisas, cura todas as feridas da alma, do coração.
O tempo como Deus.
O Tempo é o senhor das estações do ano; regente das mutações climáticas. Tempo está sempre em movimento, entre uma e outra extremidade dos pólos.
O orixá Tempo está ligado ao meio ambiente, pois qualquer choque ambiental tem a sua regência. Ligado intimamente aos quatros elementais da Natureza, Tempo viaja por todos eles, num movimento constante, alterando infinitamente o tempo. Sem esse movimento, viveríamos o mesmo segundo sempre, melhor, “sempre” não existiria. Com o tempo parado, não poderia existir vida de nenhuma espécie. A este Orixá, também chamado de Kitêmbo, foi designado e controle do ambiente, a passagem dos segundo, minutos e horas, dando sentindo aos dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos e milênios. Ele é o próprio nome: Tempo.
Tempo (Kitêmbo) rege as estações do ano, como já disse. Ele é o responsável pela passagem de um a para outra. Está ligado ao frio, ao calor, à seca, às tempestades, ao ambiente pesado e ao ambiente agradável;
Tempo é o outono: período de mudança das plantas, dos ventos fortes, do clima meio nublado, sem beleza, mas de fundamental importância para o surgimento de um novo ciclo de vida.
Tempo é inverno: período de frio, chuvas permanentes, ambiente gelado e úmido.
Tempo é verão: período de forte calor, de sol escaldante, de seca, de estiagem.
Tempo é primavera: período da beleza das plantas, do nascimento e do desabrochar das flores, do clima agradável, do frio gostoso e do sol morno, sadio; período em que a Natureza é mais colorida e talvez mais bela de ser ver.
Tempo é o passeio por todas essas estações. Ele se encanta na mudança brusca de clima, do popular: “ sol e chuva, casamento de viúva”. Tempo é a mudança radical e a mudança proporcional do clima.
Mitologia
Os Angolas e os Congos, que cultuam os antepassados, contam uma historia sobre esse Inkice (Orixá). Relatam que ele era um homem muito agitado, que resolvia varias coisas ao mesmo tempo e que realiza varias tarefas de uma só vez.
Reclamava, entretanto, que o dia era muito pequeno e que não conseguia realizar tudo aquilo que desejava, nos prazos estabelecidos por ele mesmo. Reclamava demais. Cobrava de Zambi (Oxalá nas nações Angola e Congo) ter nascido lento e incapaz de realizar tudo o que pretendia, mesmo que, na realidade, fosse um homem forte, veloz, astuto e competente. Mesmo assim, não se considerava capacitado para realizar seus objetivos e acusava Zambi de ter feito o dia muito pequeno.
Um dia, Zambi lhe disse:
- Você e muito afoito. Parece que errei em sua criação, pois você não se conforma com o eu feito.
E ele retrucou a Zambi:
- Não tenho culpa se o Senhor, Pai, fez o dia tão pequeno. As horas são tão miúdas que não dá tempo para realizar tudo aquilo que planejo!
E Zambi, aborrecido, mas admirado pela coragem do seu filho, determinou então:
- Já que você considera que o tempo é pequeno, passará,então,a controlá-lo e administrando o verão, o inverno, o outono e a primavera. Andará, então, pelo fogo, pela água, pela terra e pelo ar. Não terá, mas problemas de tempo. Será, então conhecido com Tempo e regerá os movimentos da Natureza.
E, na terra, o povo clama o seu Inkice entoando a cantiga:
Oração ao Tempo - musica do Caetano Veloso interpretada por Maria Bethânia
Nessa aula foi pedido que desenhássemos um relógio numa folha de papel, e ali dividimos o nosso tempo, o que cada um faz nas horas do seu dia. e um outro para os finais de semana
Meu dia se revelou quase sem horários certos, eu e o relógio não nos gostamos muito, e acredite, piora nos finais de semana.
Essa atividade revelou-me o quanto preciso melhorar nessa questão, a organização do seu dia é algo de muita importância, principalmente no quesito terapia ocupacional, não se pode organizar a vida diária de uma outra pessoa se você não tem a sua própria organizada.
Evoluir e aprender é sempre bom. É mais uma que vale a pena tentar.
Na quarta aula de laboratório fizemos máscaras de gesso. A atividade tinha como intuito o desenvolvimento de confiança e auto-controle. Em dupla , um fazia a mascara com o molde do rosto do outro. Sensações muitos boas são experimentadas nesta atividade, a gaze gessada, quando molhada e posta no rosto, traz consigo uma sensação de refrescância. Vale a pena tentar.
Na aula seguinte foi realizada as pinturas das máscaras com o seguinte propósito: pintarmos como achamos que as outras pessoas nos veem e como nós nos vemos. Na parte externa da máscara pintamos como achamos que as pessoas nos veem e na parte interna como nos nos vemos. Essa atividade é muito interessante pois nos traz um momento de reflexão sobre nos mesmos, de como nossas ações influenciam em como as pessoas nos veem e como as vezes precisamos saber nos expresar melhor e começar a passar para os outros o que nos realmente somos.
Na terceira aula de laboratório A o assunto foi a saúde mental. Foi explicado a história da psiquiatria dando ênfase a reforma psiquiátrica e o papel da Terapia Ocupacional nesse movimento.
A psiquiatria no país surge, com a chegada da Família Real ao Brasil, com o objetivo de colocar ordem na urbanização, disciplinando a sociedade e sendo, dessa forma, compatível ao desenvolvimento mercantil e as novas políticas do século XIX.
É a partir do embasamento nos conceitos da psiquiatria européia, como degenerescência moral, organicidade e hereditariedade do fenômeno mental, que a psiquiatria brasileira intervém no comportamento considerado como desviante e inadequado às necessidades do acúmulo de capital, isolando-o e tratando-o no hospital psiquiátrico.
O Manicômio, dentre outros dispositivos disciplinares igualmente complexos, atravessou séculos até os nossos dias, conformando uma sociedade disciplinar com dispositivos disciplinares complementares num processo de legitimação da exclusão e de supremacia da razão.
Durante esta aula foi apresentada a história do Claudinho, um verdadeiro artista nascido em Arambaré. Foi através do tratamento moral e da pintura que Claudinho descobriu seu dom de desenho e pintura artística. Claudinho é mais uma prova de que a psiquiatria vem sendo feita de uma maneira totalmente errônea e que a Reforma Psiquiátrica é mais do que urgente.
Tratamento moral
O tratamento moral fundava-se na crença de que os chamados loucos deixaram de ser tratados como animais e seria possível introduzir mudanças significativas no comportamento dos doentes por meio de atitudes humanas mais firmes, da equipe técnica para com aqueles.
"A história da nossa psiquiatria é a história de um processo de asilamento; é a história de um processo de medicalização social". (Amarante, 1994:74)
